sexta-feira, 7 de março de 2014

Sobre o silêncio

Sentado sobre aquela mesma pedra de sempre,
O velho olha o mar.
Forte é o brilho do sol, que não o deixar abrir os olhos por completo.
Mas não o impede de contemplar a beleza daquele grande e indomável amigo,
Que parece cultivar e cativar os elogios do velho faz tempo: dança; sobe e desce maré; emite sons...

Lá longe, veem-se homens recolhendo suas redes repletas de presentes escamosos se debatendo em sincronia com os risos e cantos de alegria dos pescadores. Como que agradecendo pela dádiva, como se fosse uma forma de gratidão do gigante salobro por anos e anos de convívio, respeito e paixão.

Pergunto ao velho e aos pescadores o que o mar lhes significa.
Então, ouço um amarfanhado de palavras, gestos, suspiros e sorrisos que nada consigo compreender, mas saio de lá tão feliz quanto eles.

Meses depois retorno àquele paraíso. E o que vejo, são homens estranhos, com roupas também estranhas, removendo peixes agora negros como o óleo, com cheiro de morte.
Avistei apenas um dos pescadores e perguntei-o pelos outros e pelo velho. Ele contou que o velho tinha há dias morrido de dor e desgosto ao ver seu amigo agonizar e chorar negro e os outros pescadores foram tentar vida em outro lugar.

Perguntei-o porquê não fez o mesmo.
Naquele momento, ele olha para mim e, der repente, suas palavras somem – talvez tenham morrido agonizantes junto com os peixes no mar -, vejo uma lágrima descer em seu rosto e então percebo:

“Às vezes, palavras de nada adiantam, e aquele que se cala muito está dizendo.”

Então senti que o silêncio tem um barulho ensurdecedor.   

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