segunda-feira, 31 de março de 2014

Um mar



Diante deste mar estou.
Coração, barco a deriva,
levado pelas correntes de meus nada simples sonhos.
A esperança projeta seu reflexo sobre a água.
Força eu faço para reconhecer a miragem.
Mas, dane-se: É bem nítido que, se for sonho, prefiro não acordar.
Ao lançar minha rede de anseios, vejo-me pescador de sonhos.
E estes voam rasantes sobre o espelho hídrico, que, às vezes, 
sega-me por instantes, ao refletir seu olhar.
Dá ancora me desfiz há tempos.
Pois não tenho medo de perder o rumo neste mar que estou.
Certo eu de que, como disse o poeta:
“Um pescador tem dois amor.”
Um é te querer e o outro é te sentir.
Banho-me nessas águas a espera de um sonho.
Pois o pescador também ama,
Pois, eu pescador te amo.


sexta-feira, 7 de março de 2014

Sobre o silêncio

Sentado sobre aquela mesma pedra de sempre,
O velho olha o mar.
Forte é o brilho do sol, que não o deixar abrir os olhos por completo.
Mas não o impede de contemplar a beleza daquele grande e indomável amigo,
Que parece cultivar e cativar os elogios do velho faz tempo: dança; sobe e desce maré; emite sons...

Lá longe, veem-se homens recolhendo suas redes repletas de presentes escamosos se debatendo em sincronia com os risos e cantos de alegria dos pescadores. Como que agradecendo pela dádiva, como se fosse uma forma de gratidão do gigante salobro por anos e anos de convívio, respeito e paixão.

Pergunto ao velho e aos pescadores o que o mar lhes significa.
Então, ouço um amarfanhado de palavras, gestos, suspiros e sorrisos que nada consigo compreender, mas saio de lá tão feliz quanto eles.

Meses depois retorno àquele paraíso. E o que vejo, são homens estranhos, com roupas também estranhas, removendo peixes agora negros como o óleo, com cheiro de morte.
Avistei apenas um dos pescadores e perguntei-o pelos outros e pelo velho. Ele contou que o velho tinha há dias morrido de dor e desgosto ao ver seu amigo agonizar e chorar negro e os outros pescadores foram tentar vida em outro lugar.

Perguntei-o porquê não fez o mesmo.
Naquele momento, ele olha para mim e, der repente, suas palavras somem – talvez tenham morrido agonizantes junto com os peixes no mar -, vejo uma lágrima descer em seu rosto e então percebo:

“Às vezes, palavras de nada adiantam, e aquele que se cala muito está dizendo.”

Então senti que o silêncio tem um barulho ensurdecedor.